A maioria dos resultados do primeiro trimestre de 2011 já divulgados estão em linha com as expectativas do mercado. No entanto, alguns números têm deixado os investidores com a sensação de estar em um filme de terror.

Por Cláudio Gradilone

Na segunda-feira 9 a Hypermarcas anunciou que seu lucro líquido no primeiro trimestre foi de R$ 32,9 milhões, queda de 40,3% em comparação com 2010. 

As ações recuaram 10,3% após a divulgação dos números. No mesmo dia, a construtora Gafisa mostrou uma situação bem mais complicada. O lucro líquido desabou 79%, para R$ 13,7 milhões. Ruim para as ações, que acumulam perdas de 24,7% em 2011, uma das maiores quedas do Ibovespa. Na terça-feira 10 foi a vez da América Latina Logística (ALL) anunciar um lucro de apenas R$ 500 mil, um recuo de 98,5% ante os resultados apurados um ano antes. 
 
94.jpg
 
Os gritos de horror do mercado acionário foram menores e as ações da empresa de logística caíram 2,74%. Apesar dos sobressaltos, a orientação dos analistas é não se desesperar. “Estes resultados ruins são pontuais e fruto de erros estratégicos das companhias”, afirma Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos. 
 
Ele diz ainda que o mercado está muito exigente. Em 2010, os resultados foram aparentemente melhores por conta de uma base de comparação muito fraca, devido aos números ruins decorrentes da crise. “Se o lucro vier um centavo abaixo do previsto, os investidores penalizam muito o papel”, diz Lembi.
 
101.jpg

 
 
 
Educação financeira
 
Organizado pelos editores da revista de negócios americana Fast Company, o livro Adapte-se ou Morra reúne em 55 lições com 400 citações e conselhos empresariais de intelectuais, executivos e investidores, que vão de Maquiavel, autor de O Princípe, a Bill Gates, fundador da Microsoft . (Ed. Sextante, 192 páginas, R$ 19,90) 
 
95.jpg
 
 
 
Desempenho das empresas por setor de atividade
 

106.jpg

 
 
 
107.jpg

 
 
 
108.jpg

 
 
Destaque no pregão
 
BB quer chegar a R$ 1 trilhão em ativos
 
A estratégia do Banco do Brasil de focar em negócios não bancários e investir no controle do risco do crédito deu bons resultados. O banco presidido por Aldemir Bendine lucrou R$ 2,9 bilhões no primeiro trimestre de 2011, um crescimento de 24,7% em relação ao mesmo período de 2010. 
 
96.jpg
 
Na comparação entre os dois períodos, o crescimento do crédito foi de 21,2%, as receitas com tarifas aumentaram 10,9% e os resultados de seguros, previdência e capitalização subiram 16,3%. A meta para o restante do ano é a ampliação das carteiras de empréstimo e dos ativos totais. Segundo os executivos do banco, o objetivo é encerrar 2011 registrando R$ 1 trilhão em ativos. 
 
 
Palavra de analista
 
“Os resultados foram positivos e muito acima do esperado”, afirma Carlos Augusto Nielebock, operador de bolsa da Icap Brasil. Dentre os dados que se destacaram aos olhos dos analistas estão a queda nas despesas, a evolução da carteira de crédito e a taxa de inadimplência abaixo da média da indústria.
 
 
Empresas aéreas

Gol na descendente
 
O aquecimento da demanda por passagens não foi suficiente para impulsionar os resultados da Gol. A empresa anunciou na terça-feira 10, que prevê uma queda na margem operacional de 2011, que deve ficar entre 6,5% e 10%. A previsão anterior ia de 11,5% a 14%. A notícia não agradou ao mercado e as ações recuaram 4,16% na quarta-feira 11.
 
 
Quem vem lá

É hora do IPO da Technos
 
A fabricante de relógios Technos enviou para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários)  pedido para seu IPO (Oferta Inicial de Ações, na sigla em inglês). O objetivo da empresa é emitir ações no Novo Mercado da BM&FBovespa por meio de ofertas primária e secundária, sob coordenação do líder Itaú BBA.
 
 
97.jpg 
 
Fique de olho:  o grupo detém duas marcas próprias, a Technos e Mariner, e distribui e licencia produtos de terceiros sob as marcas Mormaii, Euro e Seiko.
 
 
Touro x urso
 
102.jpg
 
A situação não melhora para o Ibovespa à medida que o ano passa. Em 2011, o índice já recuou 7,98%. Em maio, as perdas somam 3,56%. Ações relevantes estão sob pressão. Os papéis da Petrobras, que caíram em 2010 devido à capitalização, agora sofrem por questões sobre o aumento dos combustíveis. Dúvidas com relação ao desempenho da nova gestão da Vale também pesaram sobre os papéis. Os analistas consideram as reações exageradas, mas dizem que a volatilidade vai continuar. 
 
 

104.jpg

105.jpg

 

 

 
 
103.jpg

 
 
Mercado em números

Itaúsa

R$ 3,7 bilhões:  Foi o lucro líquido da Itaúsa no primeiro trimestre do ano, um aumento de 5,5% em relação ao mesmo período de 2010.
 
 
Multiplan

R$ 63,7 milhões: Foi o lucro líquido da rede de shopping centers Multiplan no primeiro trimestre de 2011, um crescimento de 34,2% em relação aos três meses iniciais do ano anterior.
 
 
Energisa

R$ 36,7 milhões: Foi o valor do lucro líquido reportado pela Energisa, companhia responsável por cinco distribuidoras de energia nos Estados de Sergipe, Paraíba, Minas Gerais e Rio de Janeiro, no primeiro trimestre do ano. O valor representa queda de 22,2% em relação ao mesmo período de 2010.
 
 
UOL

R$ 25,1 milhões: Foi quanto o UOL lucrou no primeiro trimestre do ano, registrando um aumento de 11% em relação ao mesmo período de 2010. Na mesma base de comparação, a empresa de internet afirmou que a receita líquida subiu 62%, para R$ 297 milhões, e o Ebitda aumentou 108%, para R$ 82,6 milhões.
 
 
Eternit

R$ 16,8 milhões: Foi o lucro líquido da empresa de coberturas, painéis e placas de cimento Eternit no primeiro trimestre de 2011, 27% menor do que o mesmo período em do ano passado.
 
 
 
Pelo mundo
 
Disney ganha menos
 
A Walt Disney lucrou US$ 942 milhões no primeiro trimestre. Naquele período de 2010, o resultado foi de US$ 953 milhões. A freada aconteceu na divisão de parques e resorts, na qual a unidade do Japão reduziu as operações devido ao tsunami.
 
98.jpg
 
 
Lucro da Endesa cai
 
O lucro da empresa de energia espanhola Endesa caiu 56,4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado e ficou em € 669 milhões. A queda foi provocada por um impacto da integração da subsidiária de energias renováveis da companhia na holding Enel Green Power.
 
 
Agências de rating na mira de Portugal
 
Mais um problema para José Sócrates, o primeiro-ministro português. O Ministério Público está investigando as agências de risco Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s, segundo a Efe. A investigação começou após economistas de Portugal questionarem o modelo de avaliação. 
 
99.jpg
 
 
 
Personagem
 
Agora, a bolsa mira  as empresas
 
Quer ter sócios? Após uma forte campanha para arrecadar novos investidores, a bolsa pisa no acelerador para estimular a volta dos IPOs (ofertas públicas de ação, na sigla em inglês). Os candidatos preferenciais são empresas de grande porte voltadas para a infraestrutura. Quem coordena os esforços é Cristiana Pereira, diretora de desenvolvimento de empresas da BM&FBOVESPA, que conversou com a DINHEIRO:
 
100.jpg

Cristiana Pereira, diretora de desenvolvimento de empresas BM&FBOVESPA
 
 
Por que a bolsa está investindo para trazer novos nomes ao mercado?
 
Hoje temos 467 empresas na bolsa, sendo que 380 delas negociam ações. É pouco em comparação com outros países, mas é positivo, pois indica potencial para crescermos. 
A meta é trazer mais 200 empresas até 2015. 
 
 
Quais participantes a bolsa busca captar?
 
Das mil maiores empresas brasileiras, 700  não estão listadas na bolsa e estão em um estágio pré-IPO. Elas já têm uma boa estrutura para abrir capital, têm profissionais qualificados e contas auditadas, o que facilita chegar ao mercado mais depressa.
 
 
Companhias estrangeiras estão sendo consultadas?
 
Sim. Muitas das maiores empresas do Brasil são subsidiárias de multinacionais e a bolsa também pode ser uma fonte de capital interessante para elas, principalmente depois do IPO do Santander. No entanto, queremos nos concentrar primeiro nas companhias brasileiras.
 
 
Por que a bolsa é atraente?
 
Estamos vivendo um bom momento econômico. Pré-sal, Olimpíada e Copa elevam a possibilidade de crescimento. 
As empresas precisarão investir e queremos mostrar que somos uma maneira complementar de levantar fundos, ao lado dos bancos e do BNDES. 
 
 
Como abordar as candidatas?
 
Nós as mapeamos e vamos até elas. Fizemos uma parceria com a  Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos para levar eventos educacionais às empresas, explicando as vantagens do mercado financeiro, e lançamos o guia “Como 
abrir o capital de sua empresa no Brasil (IPO)”.
 
 
Só quem tem condições de abrir capital recebe as visitas da bolsa?
 
Não. Temos parcerias com institutos como a Endeavor, que nos ajudam a mapear empresas. Mesmo que não tenham porte ou interesse imediato em abrir capital, queremos mostrar que essa alternativa existe. Também falamos com os investidores institucionais, que nos dizem em que companhias gostariam de investir e nos ajudam na prospecção.
 
Colaborou Caio Moretto, Juliana Schincariol e Lilian Sobral 
Fonte: Istoé